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Acordo e fico na cama com a seguinte idéia: o inferno pode ser tão bonito quanto um afresco na capela cistina.
“Você só está bravo assim porque estamos numa sala cercados por pessoas. Se estivéssemos nesta mesma sala, vazia, só nós dois, talvez com as luzes apagadas, em silêncio, e você tivesse acabado de chegar do trabalho cansado, e me encontrasse em casa e a primeira coisa que eu fizesse fosse te beijar, você teria ficado muito feliz.
No inicio, os primeiros sinais era uma dor de cabeça chata. A melancolia da melodia não passa de dor de cabeça latejando sem fim. E s olhos fechados servem para representar a inocência.
Ela estava vestida de aeromoça, qual homem nunca sonhou com um dia no qual uma aeromoça distraída derrubasse algo liquido, de preferência não gelado, no seu colo e fosse tentar enxuga-lo, e aí todos ficariam sem graça. E tudo ao seu redor desaparece, as cadeiras apertadas, o corredor apertado. Ela vai seguindo seus passos. Eles chegam no banheiro minúsculo e ele, um tanto estabanado tenta pegar um papel e ela diz que vai ajudá-lo, o avião enfrenta uma turbulência e chacoalha o mínimo para que ambos percam o equilíbrio e no pequeno esbarrão, começam a se beijar. E o movimento de suas línguas se confunde com o movimento do avião, numa velocidade incrível que de tão rápido, voa.
Breve, e sem jeito, ela pede para que ele não comunique à companhia aérea sobre o incidente, ela não pode perder aquele emprego, é sua vida. Ele diz: não se preocupe, eu não direi nada a ninguém. Tudo isso não passa de memórias agradáveis que por algum tempo me fará companhia quando estiver me sentindo sozinho, na cama, antes de dormir.
Chega*
Ele pensa que vivemos no esquecimento de nossas metamorfoses. Mas esse eco que ressoa ao longo do dia, esse eco fora do tempo, da angustia, da caricia, estamos próximos ou distantes da nossa consciência?
Ela pensa: teus olhos retornam de um pais arbitrário onde ninguém jamais soube o que é o olhar.Pela caricia saímos de nossa infância.
Todas as coisas ao acaso. As palavras ditas sem serem pensadas. Os sentimentos a deriva. Os homens se movem na cidade. O olhar, a palavra. Tudo está em movimento.
Num só fôlego ela se deu conta de sua dupla existência.

Mas estamos aqui para um espetáculo de dança, tudo isso é mentira, você acha que eu estou fingindo. Você não consegue se esquecer disso por um segundo e aproveitar um beijo, mesmo que em público?
Ele: mas você não entende mesmo. Isso tudo é uma afronta para mim. Você imagina quantas vezes eu fico em casa, sozinho, imaginando como seria bom estar com uma pessoa querida, quem sabe amar, ou não, só uma conversa mesmo, sei lá, aí você resolve me beijar assim, aqui, na frente de todos e só porque eu estava ficando nervoso. Você não sabe o quanto eu te odeio agora. Acho que você me beijou porque tinha medo. E isso tudo é de mentira mesmo.
Ela lê: acho que você tem razão. Mas foi muito bom.
Ele lê: sim “as imagens e fenômenos vivos pertubam-no como um sonho, mas se iluminam no estagio de desintegração-“

Ele lê: e além do mais você está me pagando para estar aqui. E olha que é uma mixaria.
Ela lê: eu sei. O calor a faz pensar em que dia ela decidiu que precisava ter consciência de todos os sentimentos.
Me desanimo com esta historia.
Não sei de onde vem esta melancolia. Acho que preciso falar menos.
Como carregar um peso morto durante toda vida?
Será que foi sempre assim?
E de repente o tempo passou rapidamente e eu não lembro o que aconteceu de fato.
Um dia ela decidiu que precisava saber se amava ou não aquele homem. Por isso decidiu que estaria sempre consciente de seus sentimentos. No momento em que ela sente, ela sabe. Ela se perguntava em que medida o contato intimo e constante com ele era fundamental para sua vida. Será que vale a pena tanto sacrifcio? Aturar tanta bobagem?
Ela adorava a idéia de que seus pés não tocavam os chãos durante grande parte de sua vida e de que seu peso era sustentado pela velocidade. Sua vertigem não era conseqüência do desconhecido, mas da consciência cada dia mais clara de que qualquer alteração na velocidade, por menor que fosse, poderia derrubar toneladas em poucos segundos. Ela, de tanto somar a velocidade do avião a sua própria tinha um prazer que se assemelhava a condição de pássaro. Diferente do cachorro, pássaro não foi feito para ficar fazendo carinho. Para que perder tempo com isso se ele pode voar?
A maior tragédia de sua vida foi o dia que descobriu que tinha labirintite.
Ele: “o contraste entre o tempo no qual ele paira e o tempo que lhe extermina é sua própria felicidade”
Silêncio.
Ele: você duvida que eu consigo pular sobre a sua cabeça?


Filha da puta. Bastarda, desgraçada. Escrota do caralho. Vai tomar no cú. Nojenta. Suja. Imunda, porca. Fedida. Hipocrita, mesquinha, egoista, mal carater, ladra, corrupta. Sua puta, cachorra. Baixa. Piranha. Vadia. Insensivel. Futil. Grossa. Sem educação. Imbecil. Mongoloide. Idiota. Estupida. Cancro. Solitaria do inferno. Verme rastejante. Cretina de bosta. Sua merda. Mediocre. Infeliz. Miseravel. Falsa, mentirosa.
Tua mão. Teus olhos.
Se você sorri é para me invadir melhor.
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